Meu amigo Zé
Nada contra a maré!
Não pede o boné!
Nele eu boto fé!

O Zé tinha um sonho
Desde pequeno
Queria mudar
Esse mundo medonho!

Fez amizade com o João
Que também queria revolução!
Andavam juntos na contramão!

Entraram num partido revolucionário
Tudo parecia extraordinário
A chama da esperança queimava
E para a crítica nenhum deles ligava

Meu amigo Zé
Nada contra a maré!
Não pede o boné!
Nele eu boto fé!

O partido crescia e seu compromisso esquecia
Objetivo era chegar ao poder
Ao invés de o combater!

O partido foi crescendo
João foi se corrompendo
Zé foi se afastando
De ambos se desligando

O seu verdadeiro significado
Foi escamoteado
O Zé logo se desiludiu!
O João sucumbiu!

Meu amigo Zé
Nada contra a maré!
Não pede o boné!
Nele eu boto fé!

Recusou o cargo e a corrupção
Rompeu a coligação com o João
Não aceitou a cooptação!

O Zé queria uma solução!
Entrou num partido mais radical
Mas logo veio outra desilusão
Descobriu que nenhum partido era opção!

Era preciso uma explicação!
Marx, Luxemburgo, Michels, Bakunin!
E nesse momento veio um clarão!
Entendeu porque o partido evoluía assim!

Meu amigo Zé
Nada contra a maré!
Não pede o boné!
Nele eu boto fé!

Depois de muita leitura
Decidiu continuar na luta
Anarquismo, marxismo, conselhismo
É melhor do que o pessimismo!

Os partidos criam vida própria
Uma terra sem esperança e inóspita
Uma nova fração burocrática
Uma nova camada aristocrática

As coisas se esclareceram
Os partidos são parte da engrenagem
A auto-organização é a única opção
O João não teve a coragem
De chegar a essa conclusão
Meu amigo João!
Agora não é mais meu amigo
Mas o Zé luta comigo!

Meu amigo Zé
Nada contra a maré!
Não pede o boné!
Nele eu boto fé!