Viajando no lombo/ do meu burro velho/ Espiando o pó vermelho/ da terra cansada e seca/ Descanso há sombra /de uma ingazeira velha/ É só carcaças do gado/ do compadre Raimundo/ Há quanta tristeza /em ver os bichos morrendo/ Vem caminhando léguas/ a procura de um gole dágua/ Minha alma só falta saltar dos peito /pulos caminho/ E o desejo de abraçar /cada uma dessas reis morta/ Gado que alimentava/ todos dessas bandas de cá/ As vacas paria outros bezerros /que pastava no quintal/ Até a família de seu Osmundo / homem rico do lugar/ Passava dificuldade/ e já não tinha o que comer/ As criancinhas dava o leite /e as tripas fritas com um pouco De farinha numa cuia./..ha que maravilha /o esterco agente adubava a terra /que dava as hortaliças e as frutas/ e era servida nas refeição/ e até o chifre queimado / Espantava as muriçoca da beira da casa/ e era um sossego/ Lá vou eu com meu burro velho/ matutando pela terra Lascada e seca/ e sem uma gota dágua no rio remanso/ Vou descendo pelo vale da solidão/ olhando o céu que Nunca acinzenta/ e só carcaça eu contei mais de duzentas/ E afora as que vi no vilarejo do queimado /perto do lagedo/ Vou eu e meu burro velho / e minha viola companheira/ E pra disfarçar/ vou entoando uma moda triste /cantando e caminhando /e contando cada légua do caminho/ Só carcaças de vacas secas/ na estrada da morte certa/ Mas com fé no pai de céu vou /eu e o meu burro velho/ E minha família/ e na certeza /de que mais dia menos dia/ A chuva vai cair por aqui/ nesse canto de seca /fome e tanto Esquecimento e solidão/