A estância acorda mais cedo Um galo canta mais forte Um ventito puxa o norte Pras barras da madrugada No galpão a peonada Toca uma charla entretida Que depois da recolhida Vão lidar numa carneada Ao tranco pra uma mangueira Que a tambeira mostra o rumo Entra junto pra o consumo A vaca gorda e falhada Uma preta azebuada Que o trevo afirmou a graxa E hoje no mais se agaixa No fio da faca afiada Cavalo manso encilhado Sovéu e o laço nos tentos Nesta lida que é o sustento Pra mesa do chão fronteiro Solta o sovéu pescoceiro Num tiro certo e preciso E pra sombra de um paraíso Se vai cinchando o campeiro O sangrador coloreia O cheiro que o sangue pulsa Num berro a vaca debruça Como se fosse oração Numa prece pra o rincão Que viu nascer a terneira E hoje tem na carneadeira Sua última comunhão Riscando o couro começa As patas e a barrigueira E a chaira nem que não queira Não se aparta da carneada Volta e meia uma chairada Como quem toca de ouvido Já tem o couro tendido Na milonga mais afiada Serra o peito e ata a goela Com a virilha deitada O coração arinhonada E apartando as frissuras E quando a carne pendura Num gancho pra ir oreando Tem o Rio Grande Mostrando No campo a força e a fartura