Calço o verso e ele é meu sapato Pra pisar nas letras e no chão Palavra de asfalto De um negro poema Que é feito de suor e grão Visto o verso E ele é minha roupa Se faz frio ou faz calor Saio pela rua Esperando inverno Ou a primavera que restou Cada hora é uma letra Cada dia uma palavra Que se encerra e insinua Uma nova rima Cada um é uma folha infinita Onde o tempo escreve sua obra-prima Pelo avesso o tempo é minha pele E o gesto é minha voz Hoje estou mais certo Que essa vida é um verso E que viver e desatar os nós Cada hora é uma letra Cada dia uma palavra Que se encerra e insinua Uma nova rima Cada um é uma folha infinita Onde o tempo escreve sua obra-prima