Ébrio na mesa de um bar A boca seca implora o vinho que, eu suponho, ajudará A tentar me esquecer Daquele cão comendo lixo, eu vi, não era fictício Pra depois regurgitar A fome é pouca pra a carniça que ele tentou devorar Mas se quer sobriver Vai ter de criar a miragem que é banquete a sua lavagem Mas o garçom discorda E diz que a gente têm que olhar pra frente Que a vida é um turbilhão sem precedentes Contando orgulhoso histórias de como chegou ali Eu disse "acorda" Será que és assim tão negligente? Se achas mesmo assim tão inteligente E não visse que o bicho no lixo era gente e por isso sofri Mas que calhorda Sorriu e me julgou um inocente Gritei pra ele "és um prepotente" E saí revirando mesas e copos a pontapés Não importa Jamais pretendi ser mais um cliente Por mais que lhe pareça indecente Eu não tenho dinheiro pra pagar a conta e não quero lavar a louça Eu quero bem mais do que gordura em minhas unhas Eu quero trazer honra à minha alcunha Tentar canalizar esse calor que me sufoca SolvÊ-lo em acidez nas minhas respostas Pra ver que quem já nos fez de idiota Hoje em dia se calou No outro dia ao acordar Me veio à mente uma clareza que me fez bestificar Pois vi num vidro qualquer Que aquilo que fuçava os restos era eu