Desça dos degraus de sua onipotência E perceba Os obstáculos ainda são os mesmos Evoque seus sentidos mais primatas E se assuste com os erros. As calçadas estão nuas As calçadas estão nuas Nossa liberdade se restringe a uma espera agonizante E a repetição dos dias nos torna terrivelmente iguais Na histeria urbana sub humana Nossas necessidades são coadjuvantes. E nem a esperança nos serve mais As ruas continuam surdas Mas os gritos ressoam alto demais Repare nos olhos Famintos, opacos e sem perspectivas Nas sarjetas A velhice de suas verdades Contra as drogas que você criou Transborda e nos transforma em corpos pré-mortos Grãos de areia As calçadas estão nuas São os tetos que desabam sobre nossas cabeças É a falta de teto que desaba a sociedade Acorde! Pois as luzes dos palanques ainda estão acesas Produzindo multidões Os zumbis que vagam nas metrópoles entre os prédios Não enxergam o céu E os mendigos são poetas Que picham a lápide do nosso sistema Os mendigos são profetas Cremados, “decapitalizados” por jogos de cena Os mortos de fome são poetas Que escrevem no epitáfio da neo liberdade suas carências E as prostitutas nas esquinas São estátuas do medo do que somos Profana é a nossa decadência.