Você já deve ter ouvido falar que o samba é tocado em compasso 2/4. Da mesma forma, a valsa é em 3/4 e boa parte do rock e do pop é em 4/4. Esses números representam um dos fundamentos básicos da música, que ajudam a compreender as características rítmicas musicais: a fórmula de compasso.

Este é um dos princípios mais importantes da escrita musical. Portanto, ao assimilar esse conceito, a compreensão de como os diferentes elementos da música funcionam e se interagem fica muito mais fácil.

Neste artigo, você vai entender o que é e para que serve a fórmula de compasso. Além disso, vai conferir também exercícios que vão te ajudar a fixar com facilidade essas noções. Vamos lá saber tudo sobre fórmula de compasso?

Para que serve a fórmula de compasso?

A fórmula de compasso define como os pulsos (tempos ou batidas) vão se organizar dentro dos diferentes tipos de compasso. Assim, é possível identificar e transcrever em uma partitura todo e qualquer ritmo de uma música.

Por exemplo, a duração de cada nota da melodia vocal, de um solo de guitarra, de uma linha de baixo e assim por diante. Bem como em qual lugar da linha do tempo musical cada uma dessas notas vai acontecer.

Além disso, a fórmula de compasso é determinante para entender a batida rítmica que vai ser tocada no acompanhamento, seja no teclado, no violão ou em qualquer instrumento harmônico e/ou ritmista.

O que é e como reconhecer as fórmulas de compasso?

Na notação musical, a fórmula de compasso determina a duração e a quantidade de pulsos em um compasso. Ela é representada por dois números sobrepostos na forma de fração no começo da partitura.

Todavia, se houver uma mudança de compasso no meio da música, a fórmula de compasso aparecerá novamente no meio da partitura para indicar tal alteração.

É importante deixar claro que, apesar de aparecer como um número em forma de fração, a fórmula de compasso não deve ser entendida dessa maneira.

Sendo assim, o número de cima, também chamado de unidade de compasso, indica quantos pulsos cada compasso tem.

Da mesma forma, o número de baixo, conhecido como unidade de tempo, define qual figura de tempo vai determinar a duração de um pulso dentro de um compasso.

Vamos entender melhor isso mais adiante.

No entanto, não há como entender as fórmulas de compasso sem assimilar algumas noções básicas primeiramente. Vamos a elas?

Acentuação

Na maioria dos casos, um compasso tem seu primeiro pulso acentuado. Vamos compreender melhor isso com a ajuda de um metrônomo.

Por exemplo, vamos escolher como medida um compasso 2/4. Agora, vamos selecionar um andamento de 60 BPM. Perceba que o primeiro clique é mais forte que o segundo. Ou seja, ele é acentuado.

Em outras palavras, a acentuação nos permite perceber quando começa e termina cada compasso. Dessa maneira, a fórmula de compasso organiza as pulsações dentro do compasso, assim como os tempos organizam as divisões rítmicas dentro da métrica.

No nosso exemplo, temos um compasso de dois pulsos, onde o primeiro deles é acentuado. Esta acentuação evidencia uma regularidade em que os dois pulsos se intercalam. A marcha, o samba e o forró são exemplos de gêneros musicais tocados no compasso 2/4.

Em cada fórmula de compasso, a acentuação do primeiro tempo gera intenções musicais diferentes. No compasso 2/4, ela é quadrada, como o passo ao marchar. Já no 3/4, temos uma intenção mais circular, que podemos observar quando um casal dança uma valsa, por exemplo.

Além disso, em alguns gêneros musicais, as acentuações podem aparecer deslocadas do primeiro tempo, gerando diferentes sensações rítmicas.

Portanto, a acentuação característica de cada fórmula de compasso ajuda a evidenciar o estilo de uma música.

Figuras rítmicas

Para entendermos as figuras rítmicas, precisamos falar antes de unidade de tempo.

A unidade de tempo define o quanto vai durar cada pulso de um compasso. Ou seja, ela determina a duração de cada figura rítmica dentro de um compasso.

Cada figura rítmica é representada por um número. Veja:

Qualquer uma delas pode definir a unidade de tempo. 

No exemplo ao lado, temos um compasso com quatro pulsos, onde cada um deles tem a duração de uma semínima (figura indicada pelo número 4):

Agora, juntando a acentuação e as figuras rítmicas, temos a fórmula de compasso numerador e denominador.

Fórmula de compasso numerador e denominador

O número de cima (numerador) indica quantos pulsos o compasso tem.

Assim, no compasso 2/4, temos dois pulsos, no 3/4, três pulsos, e, no 4/4, quatro pulsos. Em todos eles o primeiro tempo é acentuado. Ou seja, a primeira pulsação é mais forte e indica o início do compasso.

Por outro lado, o número de baixo (denominador) indica a figura de tempo que vai representar a duração de um pulso dentro do compasso. Portanto, nos três exemplos acima, quem está exercendo esta função é a semínima (figura representada pelo número 4).

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Exercícios para entender fórmula de compasso

Agora, vamos ver como funciona a fórmula de compasso nos diferentes tipos de compasso que existem na música.

Compasso binário

O compasso binário é aquele formado por dois pulsos e que, por isso, tem o número 2 como numerador. Lembra da acentuação? No compasso 2/4, o primeiro pulso é acentuado (forte), e o segundo é fraco.

Por isso, o 2 é o numerador. Ou seja, a somatória das pulsações dentro deste compasso tem que ser 2.

Já o número 4, é o denominador, pois indica que cada um desses dois pulsos equivale a uma semínima. Assim, um compasso 2/4 pode ser formado por uma mínima, ou por duas semínimas, ou duas colcheias e uma semínima, e assim por diante.

Para exercitar, escreva compassos 2/4 usando combinações de figuras rítmicas que caibam dentro desses 2 tempos.

No entanto, esta não é a única fórmula de compasso binário. Os compassos 2/2  e 2/8, por exemplo, também são compassos binários, pois possuem 2 tempos (numerador é o número 2).

Além da marcha, vários ritmos brasileiros, como frevo e bossa nova, usam compassos binários. Como exemplo, temos a versão de João Gilberto para Insensatez.

Compasso ternário

Conforme o nome indica, o compasso ternário é formado por três pulsos. O 3/4 é um exemplo de compasso ternário. Nele, o primeiro pulso é acentuado (forte), enquanto os outros dois são fracos. Por isso, seu numerador é o 3.

Similarmente ao compasso 2/4, a somatória das pulsações (dos tempos) neste compasso tem que ser 3. Assim como no compasso 2/4, em 3/4 o denominador (número 4) indica que cada um dos três pulsos tem a duração de uma semínima.

Faça o mesmo exercício do compasso binário, só que agora completando 3 tempos.

Outros exemplos de compasso ternário são o 3/2 e o 3/8, onde cada pulso dura uma mínima e uma colcheia, respectivamente.

A valsa, o chamamé e a guarânia são estilos musicais que usam compassos ternários. A canção Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores é um exemplo de música em 3/4.

Compasso quaternário

O compasso quaternário é, obviamente, o que é formado por quatro pulsos. Assim sendo, o primeiro deles é acentuado. O segundo e o quarto são fracos. Já o terceiro pulso, tem sua intensidade mais forte que o segundo e o quarto, mas não chega a ser tão acentuado quanto o primeiro.

Como exemplos de compasso quaternário temos o 4/4, 4/2, 4/8 e 4/16. Assim como nos compassos binários e ternários, a somatória das pulsações deve ser 4.

Uma música em compasso 4/4 é Back In Black, do AC/DC. Confira:

Compasso simples

Os compassos simples são aqueles onde a primeira subdivisão básica da pulsação é dividida em duas partes iguais. Por exemplo, cada pulso de um compasso 2/4 (binário simples) pode ser tocado por uma semínima (uma nota por tempo), ou duas colcheias (duas notas por tempo).

Outros exemplos de fórmula de compasso simples são o 3/4 (ternário simples) e o 4/4 (quaternário simples) .

Compasso composto

O compasso composto ocorre quando a primeira subdivisão básica da pulsação se divide em três partes iguais.

Como as figuras rítmicas estão organizadas em divisões por 2, elas não podem suprir um pulso dividido em três partes iguais. Como solução, o número de cima da fórmula de compasso é multiplicado por 3.

Assim sendo, cada pulso de um compasso composto tem 3 tempos, o que resulta em numeradores múltiplos de 3. Dessa forma, é possível escrever a subdivisão básica típica desse tipo de fórmula de compasso.

Os numerados da fórmula de compasso composto podem ser 6 (binário composto, 2 x 3 = 6), 9 (ternário composto, 3 x 3 = 9) ou 12 (quaternário composto, 4 x 3 = 12). Portanto, os compassos 6/8, 9/8 e 12/8 são compostos.

A música You’ve Got To Hide Your Love Away, dos Beatles, está em 6/8:

Para perceber melhor esta fórmula de compasso, faça um exercício com o metrônomo em 60 BPM.

Bata três palmas de igual duração para cada pulso do metrônomo. Assim, a primeira palma coincidirá com a batida do metrônomo, e as outras duas ocorrerão no espaço entre os sons do metrônomo.

As duas palmas são os tempos fracos. No entanto, as que ocorrem junto com o clique do metrônomo são os tempos fortes do compasso 6/8 (tempos 1 e 4).

Compasso alternado (misto)

Os compassos alternados ou mistos resultam da soma de duas ou mais fórmulas de compassos diferentes. Assim, suas fórmulas básicas se alternam de maneira cíclica e tendem a gerar números ímpares.

Por exemplo, o 5 (2+3 ou 3+2) ou 7 (4+3 ou 3+4) são numeradores típicos de fórmulas de compasso alternado. Ou seja, um compasso 5/4 é a junção da alternância de um compasso 2/4 com um 3/4 ou vice-versa.

A música Take Five, do Dave Brubeck Quartet, é em 5/4. Veja:

O compasso 7/4 é a junção de um 4/4 com um 3/4 ou vice-versa. Money, do Pink Floyd, é em 7/4.

Agora, você pode estar se perguntando: qual a fórmula de compasso mais comum na música? A maior parte da música popular (rock, pop, sertanejo, MPB etc.) é tocada na fórmula de compasso 4/4 (quaternário simples).

Mas é importante estudar as outras fórmulas de compasso, pois, mesmo nesses estilos, outros tipos de fórmulas não são incomuns.

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