Os bárbaros já Chegaram

Antônio Miranda

Os bárbaros já chegaram e se tornaram
    invisíveis em suas sinecuras,
    com suas túnicas rubras, azuis, furta-cores
    - chegaram sem resistência.
     
    Chegaram os bárbaros
    com sua declamatória fortuita
    e sua eloqüência gratuita
    pregando uma democracia de simulacros
    e semelhanças neutralizantes
    ocultando as diferenças.
     
    A eles entregaremos nossos cérebros jubilosos
    nossas cabeças decapitadas em bandejas
    às hostes recrutadas nos subúrbios sombrios
    para amedrontar-nos e sujeitar-nos
    ao moralismo mais pedestre e pedante.
     
    Abandona o plano metafísico
    e refugia-te no cotidiano mais reles,
    vaticina Baudelaire.
     
    Sigamos os exemplos mais edificantes
    da mesmice, os fogos-fátuos da mediocridade
    a exemplaridade de almanaque
    e da bula de remédios, os redentorismos:
    o cinismo dos disfarces e ventriloquias
    o endeusamento coreográfico
    do Líder narcisista e pantomímico
    (que toma o poder e saqueia):
    - suas sandálias de prata
    e sua coroa de espinhos
    de ouro reluzente.
     
    Diante de tal fatalidade
    - uomo qualunque* -
    só nos resta o estoicismo
    para corromper os alicerces do absolutismo.
     
    Assumir o anonimato
    do mais reles existencialismo
    esperando ventos admonitórios
    que hão de vir, acreditemos.
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